Você costuma sentir uma forte desregulação emocional? Costuma ser bastante reativa (o)? Estado de melancolia, uma inquietação, uma irritabilidade e uma dificuldade de gerenciar a raiva são comuns do seu dia-a-dia? Somado a isso sente-se em um esforço constante para evitar perda dos relacionamentos? Seus relacionamentos permeiam entre um amor incontrolável a um ódio muito intenso? É um muito difícil para você ser o meio termo? Sente um vazio existencial inexplicável? Você se questiona sobre quem é, e o que você quer na vida? A sensação de instabilidade impera em sua vida?
Saiba que esses podem ser indicativos de que, talvez, você tenha o Transtorno de Personalidade Borderline. Mas afinal Jéssica, o que é Transtorno de Personalidade de Borderline?
O que é Transtorno de Personalidade Borderline-TPB ou limítrofe?
O TPB é um transtorno de personalidade caracterizado por uma instabilidade na regulação dos afetos, no controle dos impulsos, manifestando principalmente nos relacionamentos interpessoais e na autoimagem, com impulsividade acentuada. Para realizar o diagnóstico do TPB é necessário preencher pelo menos 5 dos 9 critérios de diagnósticos abaixo:
1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado.
2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. (Ora uma pessoa é a melhor pessoa do mudo, ora a pessoa vira a pior pessoa do mundo)
3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo (dificuldade com a autoimagem, senso do eu muito instável. Dificuldade em elaborar o que ele pensa sobre si mesmo e se ver de maneira distorcida)
4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar).
5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante.
6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas rara mente de mais de alguns dias).
7. Sentimentos crônicos de vazio.
Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes).
8. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos.
O TPB é um dos mais explorados na cinematografia, o queridinho de Hollywood, pois abordar toda intensidade nas telinhas é muito empolgante.
Borderline ou Bipolaridade?
As oscilações de humor dentro do Transtorno de Personalidade Borderline são sempre secundarias ao medo do abandono. Por exemplo, uma briga com a mãe, com um colega de trabalho ou término com o parceiro. Já no Transtorno Afetivo Bipolar-TAB, as alterações de humor são automáticas, pois há uma carga genética bem importante, nesse sentido, os agentes estressores são de qualquer natureza. Vale ressaltar que os transtornos de personalidades podem ser comórbidos com outros transtornos de humor, para tanto, uma pessoa com TPB pode ter também o TAB.
Como a psicoterapia pode ajudar a pessoa com TPB?
Como já foi mencionado, o medo do abandono é um dos desafios enfrentados pela pessoa que tem TPB, pois é muito difícil ficar sozinha e exercer o existir sem alguém, é quase que impossível. Nota-se, também, que a necessidade de cuidados e de alguém que se importe com ela é mais acentuado quando comparado com pessoas que não tem esse transtorno. Ser abandonada significa que ela é uma pessoa ruim, percebe esse abandono como algo errado nela. Portanto a psicoterapia pode ajudar a lidar com esse medo do abandono e promover recursos para que ela note que o erro nem sempre está nela e que romper relações não significa que ela é uma pessoa ruim. Para tanto, ao melhorar a sua autoperceção ajudará olhar para si com mais empatia e autocompaixão, de maneira diluir sua autopercepção de que são pessoas ruins e possibilitará a enxergarem mais suas qualidades, diga-se de passagem, que são muitas.
Ademais, a raiva é uma emoção muito difícil de ser administrada e, boa parte das vezes, ela é sentida de forma intensa e sem justificativa por pessoas quem tem o transtorno. “Ela pode expressar sua raiva com sarcasmo cortante, amargura ou ataques de raiva. Essa raiva com frequência é direcionada a amigos íntimos, parceiros românticos, familiares e, às vezes, médicos, porque a pessoa se sente negligenciada ou abandonada“ (Zimmerman, 2021). A psicoterapia ajudará administrar melhor essa raiva de modo mais efetivo e assertivo.
Outrossim, é pertinente salientar que a psicoterapia é principal ferramenta para tratamento do TPB. A relação terapêutica é um dos fundamentais instrumentos na regulação emocional de pessoas com esse transtorno. O tratamento psicoterapêutico proporcionará a aprendizagem e contribuirá a pessoa ter mais habilidades para lidar com os sintomas de impulsividade, agressividade e a instabilidade de humor, bem como ajustar sua percepção com sua autoimagem. A DBT- Terapia Dialética Comportamental, é uma terapia que trabalha as principais habilidades que estão deficitárias em indivíduos com borderline.
Borderline e Terapia Dialética comportamental-DBT
A DBT põe a relação terapêutica como elemento chave, nesse sentido, ao se conectar com o cliente de forma empática, compassiva, cuidado bem como deixando-o mais confortável, fica mais fácil de trabalhar as habilidades e modificar os comportamentos que trazem prejuízos para sua vida. Um número significativo de estudos tem mostrado essa abordagem com bons resultados no tratamento de pessoas com esse transtorno.
Marsha M. Linehan, foi a criadora da abordagem DBT, sua grande motivação foi o próprio transtorno de borderline, que a mesma possuía o diagnóstico. Ela era tida como uma paciente sem jeito, pois os sintomas do transtorno eram bem marcantes, levando-a a passar por diversas internações. Depois de um tempo Marsha M. Linehan concordou com a equipe que estavam atendendo-a, pois, os métodos que eram utilizados no tratamento nas clínicas que ficou internada, realmente não tinha tanto eficácia para ajudá-la.
Para sair desse inferno, como a mesma denominou, começou a estudar para apaziguar sua angústia devido aos sintomas do transtorno. Então, Marsha M. Linehan, com muito esforço e dedicação criou a DBT, uma abordagem com significativos resultados para o tratamento de indivíduos com borderline e desregulação emocional.
Se você está passando por esses sintomas, a terapia pode te ajudar a desenvolver estratégias e habilidades para atravessar a depressão e recuperar sua qualidade de vida.
Linehan, Marsha Terapia cognitivo-comportamental para transtorno de personalidade borderline [recurso eletrônico] / Marsha Linehan; tradução Ronaldo Cataldo Costa ; revisão técnica Melanie Ogliare Pereira. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010
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